
A dieta mediterrânica (DM) é o padrão alimentar mais estudado pela comunidade científica, destacando-se pelo seu papel na diminuição do risco de mortalidade e no desenvolvimento de doenças crónicas (cancro, diabetes mellitus II, obesidade, doenças neurodegenerativas e cardiovasculares)m(1). Nos países mediterrânicos europeus, por exemplo, uma baixa adesão à DM em crianças em idade pré-escolar está associada a uma elevada prevalência de sobrepeso ou obesidade (2).
Os benefícios associam-se principalmente ao consumo predominante de produtos de origem vegetal (hortícolas, frutas, leguminosas, cereais, frutos oleaginosos e azeite), baixo consumo de carne vermelha, baixo a moderado consumo de peixes e aves e consumo moderado, mas constante de laticínios (1).
Ademais, a DM distingue-se pelo conjunto de conhecimentos e costumes que representa, com destaque para o convívio à mesa, os horários regulares das refeições, a hospitalidade, as competências culinárias tradicionalmente transmitidas entre gerações, a versatilidade culinária e diversidade à mesa, sem descurar o prazer e a satisfação.
Atualmente, as populações mediterrânicas têm-se afastado deste padrão alimentar, em parte devido ao aumento do consumo de produtos ultraprocessados. Estas tendências propagam-se dos progenitores às crianças, nomeadamente através das experiências sensoriais do liquido amniótico, leite materno e ao longo da diversificação alimentar (3).
Os “primeiros mil dias de vida” (9 meses de gestação e os 2 primeiros anos de vida) são um período particularlmente vulnerável devido ao rápido crescimento e altas necessidades nutricionais (2). Este período influenciará bastante a saúda futura da criança pois as experiências sensoriais na primeira infância estabelecem preferências e padrões que definirão os hábitos alimentares ao longo da vida (3). Urge, assim, a necessidade de refletir como os hábitos dos cuidadores influenciam a saúde da criança.
Os pais são importantes promotores da saúde e educação; eles criam ambientes alimentares e desempenham um papel fundamental na estruturação das primeiras experiências com comida por meio das suas próprias crenças, práticas e atitudes alimentares, conhecimento, e compreensão dos benefícios da alimentação para a saúde (4).
A escola é um local extraordinário para a promoção da alimentação mediterrânica, nomeadamente através da oferta de refeições completas, equilibradas, coloridas e diversificadas. Deve ser também um espaço de socialização, onde o sabor ligado à cultura local e o prazer à mesa são tão valorizados como a componente nutricional.
Pelo seu valor nutricional, social, cultural e até ambiental, a escola e a família devem unir esforços na promoção da DM. O ciclo dos alimentos, as tradições gastronómicas, a roda dos alimentos, os princípios da alimentação mediterrânica e as regras de convivência à mesa são algumas das temáticas a a explorar em idade pré-escolar.
1. Pinho, I.; Rodrigues, S.; Franchini, B.; Graça, P.Padrão Alimentar mediterrânico: promotor de saúde. DGS 2016.
2. Farella, I.; Miselli, F.; Campanozzi, A.; Grosso, F.M.; Laforgia, N.; Baldassarre, M.E. Mediterranean Diet in Developmental Age: A Narrative Review of Current Evidences and Research Gaps. Children 2022, 9, 906. https://doi.org/10.3390/
3. de Franchis, R.; Bozza, L.; Canale, P.; Chiacchio, M.; Cortese, P.;D’Avino, A.; De Giovanni, M.; Iacovo, M.D.; D’Onofrio, A.; Federico, A.; et al. The Effect of Weaning with Adult Food Typical of the Mediterranean Diet on Taste Development and Eating Habits of Children: A Randomized Trial. Nutrients 2022, 14, 2486. https:// doi.org/10.3390/nu14122486
4. Romanos-Nanclares, A.; Zazpe, I.; Santiago, S.; Marín, L.; Rico-Campà, A.; Martín-Calvo, N. Influence of Parental Healthy-Eating Attitudes and Nutritional Knowledge on Nutritional Adequacy and Diet Quality among Preschoolers: The SENDO Project. Nutrients 2018, 10, 1875. https://doi.org/10.3390/nu10121875