
Parece-lhe que a sua criança nunca tem fome, tem dias em que não toca num único alimento, ou não vai comer a não ser que alguém a alimente com uma colher? Se a criança tem um nível de energia normal, brinca de forma ativa e está a crescer de acordo com as curvas de crescimento do seu boletim de saúde, então está tudo bem!
Esta situação é vivida por muitos pais a partir do 1 ano de idade. Entre o 1 e os 5/6 anos, há uma diminuição da velocidade de crescimento e, porque a criança não está a crescer a um ritmo tão rápido como acontecia ao longo do seu primeiro ano de vida, os pais começam a sentir de forma mais marcada alterações do apetite do seu filho/filha. Por esse motivo, sentem diminuição/alteração da quantidade de alimentos ingerida, por vezes mais notória nas refeições principais – a este fenómeno chama-se “anorexia fisiológica do 2º ano de vida”. Apesar de traduzir uma redução natural do apetite da criança e ser comum, poderá causar ansiedade aos pais que querem nutrir os seus filhos da melhor forma possível e poderá também causar desconforto à família durante o momento da refeição.
É importante entender que o nosso cérebro e um conjunto de hormonas no nosso organismo são responsáveis por nos informar quando estamos com fome ou quando estamos satisfeitos. Por isso, as crianças têm a capacidade inata de perceber quando e quanto têm que comer. Se insistirem ou forçarem para a criança comer mais do que ela escolheria, poderão advir 2 situações: 1) alterar a sua capacidade de regulação natural e encorajar à ingestão excessiva de alimentos; 2) causar sentimentos negativos na criança em relação ao momento da refeição, em estar sentada à mesa, ou até aversões por parte da criança a determinados alimentos.
Respeite o controlo natural do apetite com que todos nós nascemos. Enquanto cuidador é responsável pelos alimentos que oferece à sua criança, que deverão ser nutricionalmente adequados. A criança deve ser responsável pela quantidade que vai (ou não) ingerir desses alimentos.
Como pais, o que podemos fazer?
– Evite refeições muito tarde. Particularmente nas refeições ao final do dia, em que a criança já está cansada, esta pode ter menos vontade de comer e, por isso, ingerir quantidades mais pequenas do que os pais gostariam ou esperavam.
– Neste fase, o apetite e a ingestão de alimentos pode variar, não só ao longo do dia, mas também de dia para dia, por isso, tente observar o apetite do seu filho/filho ao longo da semana e não apenas num único dia. Por vezes, a criança pode ter menos fome hoje e mais amanhã.
– Não ofereça refeições intermédias de 1 em 1 hora, nem acorde o seu filho/filha para comer! Se der refeições intermédias com demasiada frequência ou muito próximas da hora de almoço/jantar, pode levar a que a criança não tenha muita fome no momento da refeição principal.
– Nas refeições intermédias, como as crianças têm estômagos pequenos, as quantidades de alimentos devem ser também pequenas (menos de 1/3 do que esperaria que ele comece numa refeição principal. Exemplos de refeições intermédias: cenoura aos palitos ou fruta cortada).
– Quando uma criança se recusa a comer, os pais têm tendência a pegar na colher/garfo, encher com comida e sorrir enquanto distraem a criança de forma que coma alguma coisa. Não deve insistir se a criança não quiser comer além da quantidade que ela naturalmente escolheu, nem insista para que acabe de comer tudo o que tem no prato!
– Não recompense a criança com alimentos doces ou brinquedos porque comeu “pelo menos mais 2 colheres” depois de ter dito que não queria mais.
– A partir do momento em que o seu filho/filha sabe pegar na colher/garfo, nunca mais pegue nos utensílios por ele/ela. Corte os alimentos de forma que seja fácil a criança pegar com a mão.
– Ofereça todo o tipo de alimentos! Quando as crianças têm pouco apetite, poderá haver uma maior tendência para incluir alimentos que a criança gosta muito, porque mais vale comer pelo menos aquilo! E é verdade que, poderá ajudar se incluir pelo menos 1 alimento que a criança gosta (desde que saudável e não refrigerantes, sumos de fruta natural, snacks salgados ou doces). No entanto, é importante continuar a oferecer à criança alimentos mesmo que tenham sido rejeitados anteriormente, de forma a variar a sua alimentação e evitar que se torne pobre em vitaminas e minerais essenciais ao seu crescimento. Não se preocupe! Por vezes não gostam de um alimento e no dia a seguir, ou na casa de um familiar, já gostam!
– Por fim, lembre-se que, nesta idade as crianças estão a aprender sobre relações e a começar a entender a sua independência. Para algumas “não” é a palavra de ordem! Por isso, é comum quererem contrariar ou não terem paciência para ficarem sentados à mesa enquanto preferiam brincar. Evite que a criança permaneça muito tempo na mesa após a refeição.
Nota:
Esteja atento se a criança está a perder peso e/ou não ganha peso em 6 meses. Se tiver sintomas como diarreia, febre, vómitos quando ingere alguma comida, dor abdominal nas refeições/após, ou se a criança continua por um tempo longo a recusar alimentos, fale com o Pediatra ou consulte uma Nutricionista com experiência na área da pediatria.
Mensagens para casa:
– Entre o 1-3 anos, as crianças têm alterações de apetite. Diminuição da velocidade de crescimento e os níveis de atividade podem fazer com que tenham variações no apetite.
– Como cuidador é responsável pelos alimentos que oferece à sua criança que deverão ser nutricionalmente adequados, deixe a sua criança ser responsável pela quantidade que vai (ou não) ingerir desses alimentos.
– Não se preocupe em demasia se a criança não come numa refeição, observe a sua ingestão semanal, porque o apetite e a ingestão podem variar muito diariamente.