Como moldar o apetite na primeira infância?

Uma das preocupações centrais dos pais relaciona-se inquestionavelmente com a alimentação da criança: o que comer, quando comer e em que quantidade? Este processo de decisão é complexo e influenciado por diversos fatores, entre os quais o apetite da criança.

Há crianças que manifestam desde muito cedo um apetite mais ávido, uma maior predisposição a estímulos alimentares pro­venientes do ambiente, por exemplo sentindo uma vontade incontrolável de comer perante o cheiro ou a visão de alimentos apetitosos, comendo mais alimentos quando está triste ou ansiosa, e manifestando mesmo alguma dificuldade em reconhecer quando está cheia/saciada. Por outro lado, algumas crianças caracterizam-se por comer mais lentamente durante as refeições, mostrando pouco interesse pelos alimentos e mesmo pouca vontade em experimentar novos alimentos, e diminuindo a ingestão em resposta às emoções, como a preocupação.

Uma mensagem importante a transmitir é que estes comportamentos do apetite podem ser moldados pelo ambiente no qual a criança se insere. As influências no útero materno, através da alimentação da mãe durante a gravidez, o ambiente alimentar nos primeiros meses de vida, através das experiências sensoriais do aleitamento materno e da diversificação alimentar, e as próprias práticas alimentares utilizadas por pais/cuidadores na primeira infância desempenham um papel muito relevante na regulação futura do apetite e dos comportamentos alimentares.

Nas crianças da coorte Geração XXI, que temos vindo a acompanhar desde o seu nascimento, aquelas que foram amamentadas durante seis meses ou mais apresentaram comportamentos alimentares mais adequados em idade escolar. É assim importante valorizar os sinais de fome e sacie­dade do bebé e alimentá-lo quando este indica estar com fome e parar quando este indica estar satisfeito/saciado. Pode ser um de­safio reconhecer estes sinais, mas uma boa estratégia é evitar enco­rajar o bebé a terminar o biberão ou a continuar a ser amamentado quando ele demonstra que já bebeu o leite suficiente. Também no momento da diversificação alimentar é importante oferecer gradualmente ao bebé uma variedade de alimentos para potenciar a aprendizagem e a aceitação de sabores (incluindo produtos hor­tícolas de sabor amargo). Esta fase requer tempo e paciência! Os bebés podem rejeitar, inicialmente, um novo alimento e levar até 10 exposições até aprender a gostar dele. Nestes casos, é importante não desistir e continuar a oferecer alimentos variados: a exposição repetida é fundamental!

As práticas que os pais adotam para controlar/monitorizar a alimentação da criança são também muito importantes nos primeiros anos de vida. Práticas como determinar o tamanho das porções e o tipo de alimentos a oferecer à criança, bem como definir o que a crian­ça deve comer ou monitorizar o seu consumo foram associados a melhores comportamentos alimentares nas crianças da Geração XXI. Por outro lado, pressionar a criança a comer contra a sua vontade ou o controlo excessivo podem provocar um aumento do consumo e atração da criança pelos alimentos que está proibida de comer.

Assim, algumas estratégias de atuação podem passar por evitar incentivar a criança a repetir a refeição (segundo prato) ou, por outro lado, evitar pressionar/forçar a criança a terminar tudo o que tem no prato, sensibilizando a criança para comer de acordo com o nível de fome que sente e respeitando os seus sinais internos de regulação. O recurso a alimentos, em particular alimentos ricos em calorias, açúcar ou gordura, como recompensa para que a criança coma a sua refeição deve também ser evitado. A modificação do ambiente alimentar da criança, expondo-a repetidamente aos alimentos mais saudáveis, isto é menos calóricos e mais inte­ressantes do ponto de vista nutricional, tal como fruta e produtos hortíco­las, frutos oleaginosos (ex. avelã, amêndoa, noz), cereais integrais (mais es­curos) e água continua a ser das estratégias mais poderosas para moldar hábitos alimentares futuros!

Poderá encontrar mais informação neste e-book, bem como algumas estratégias de atuação que visam auxiliar os pais e cuidadores a reconhecer, respeitar e responder aos sinais de fome e saciedade de cada criança.

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