O ambiente pode moldar a predisposição genética de comportamentos alimentares nos primeiros anos de vida

O peso de crianças é reconhecidamente influenciado por fatores ambientais, tais como a educação e idade dos pais, as práticas de alimentação, a disponibilidade de alimentos, etc1. Contudo, o ambiente parece interagir com fatores internos individuais – os genes.

Estudos com gêmeos mostram que a hereditariedade do peso aumenta com o passar dos anos, sendo menor ao nascimento e aumentando até a idade escolar. A influência do ambiente, por outro lado, é maior no início da vida e reduz consideravelmente com o passar dos anos2,3. A partir destes estudos, foi proposta a teoria da susceptibilidade comportamental, que sugere que a predisposição genética para o peso excessivo opera por meio de comportamentos alimentares que conferem maior ou menor susceptibilidade ao ambiente alimentar ao qual a criança é exposta. Por exemplo, uma criança que tem maior predisposição genética em comer em resposta a emoções negativas (como, por exemplo, a tristeza), tende a comer mais em um ambiente que favorece este comportamento alimentar (um ambiente com maior oferta de alimentos altamente palatáveis – geralmente altos em calorias, açúcar e gordura). Corroborando com esta teoria, um estudo verificou que crianças respondem de diferentes maneiras ao ambiente, ou seja, a predisposição genética ao excesso de peso parece ser reforçada em ambientes obesogênicos (com maior disponibilidade de alimentos calóricos)4.

É importante ressaltar que a predisposição genética a comportamentos alimentares não significa que mudanças no ambiente são ineficazes no controle do peso, mas sim que este controle provavelmente é mais difícil para algumas crianças. Modificar o ambiente alimentar do domicílio desde o início da vida é particularmente importante para crianças com maior predisposição genética ao excesso de peso.

1. Campbell MK. Biological, environmental, and social influences on childhood obesity. Pediatr Res. 2016;79(1–2):205–11.
2. Dubois L, et al. Genetic and environmental influences on eating behaviors in 2.5- and 9-year-old children: A longitudinal twin study. Int J Behav Nutr Phys Act. 2013;10:1–12.
3. Silventoinen K, et al. Genetic and environmental effects on body mass index from infancy to the onset of adulthood: an individual-based pooled analysis of 45 twin cohorts participating in the COllaborative project of Development of Anthropometrical measures in Twins (CODATwins). Am J Clin Nutr. 2016;104(2):371–9.
4. Schrempft S, et al. Variation in the Heritability of Child Body Mass Index by Obesogenic Home Environment. JAMA Pediatr. 2018;172(12):1153–60.

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